9 de setembro de 2012

Memórias


Quando criança vi um homem na labuta.
Sob o sol forte, subia lentamente a rua.
Fazia se ver ao longe,
Por sua altura e corpulência.
Carregava seu peso e os anos de sua existência.
Alvo, com parcos cabelo brancos
Sua face rubra evidenciava seu esforço.
Em uma das mãos trazia um chapéu,
de palha,
usando para abanar o calor.
Transpirava, ofegante,
Pelo esforço que fazia,
Pelo peso que carregava sobre os ombros.
Trazia consigo uma grande réstia,
Com muitos alhos e cabos entrelaçados.
Tentando vendê-los,
Anunciava-se aos moradores.
Porém, ninguém parecia com ele se importar,
ninguém lhe perguntava o preço
ou condição para pagar.

Eu, ainda pequenina, o observava,
Sentada na calçada, eu o seguia,
Acompanhava seus movimentos,
Seu deslocar vagaroso,
Passando, entre os outros, quase indiferente.
Apesar de sua voz expressiva,
Poucos demoravam o olhar em sua direção.
Eu, ao contrário dos outros, o acompanhei
Até perde-lo de vista.
Até não ouvir mais sua voz.

Com os mercados se multiplicando
Os vendedores ambulantes
perdiam seu lugar...
Aquela figura marcante
Que carregava apenas alho
Despertou em mim, uma vontade de ajudar.
Suscitou uma promessa.
Sem saber como, quando, onde ou porquê,
De encontrar um meio de ajudar os que sofrem, os que não tem voz, ou lugar.

Pensando naquele homem,
Questiono minhas memórias.
Será que aquele homem precisava de ajuda!?
De que tipo?
O que fiz eu, que o ajudasse, ou a outros!?
Fiz tantas coisas nessa vida, 

será que alguma delas preencheu o espaço dessa promessa (quase descabida)!?
Ainda, assim, sempre que penso naquele homem,
Reacende em mim aquela velha vontade,
Não sei como, quando, onde...
De encontrar um meio de ajudar.

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