28 de agosto de 2025


É assim, sem aviso, a saudade bate
nos instantes imprecisos,
na fila do supermercado,
num olhar distraído para a lua,
no som daquela música antiga
que tocava
enquanto a gente se falava.

Ah, como a saudade se insinua
nos gestos cotidianos,
numa reunião sem importância,
quando alguém pronuncia um nome igual ao seu,
                                                 a mesma linha de trabalho,
na lembrança de uma cidade.

Ah, como a saudade persiste,
no agora, no ontem,
no quase, no cedo,
sem hora marcada,
sem licença pedida.

Olho a sua fotografia,
e até ela sussurra baixinho:
ai, que saudade...

9 de julho de 2025


Por vezes,
em meio a muitas vozes e passos,
mesmo no mais improvável espaço, 
meus olhos bobeiam - e anseiam por você. 

Sinais dispersos,
características proximadas, 
mechas, dedos
um jeito de andar,
fragmentos que acendam
um subido será. 

O peito, descompassado, 
se lança em esperança, 
aguça o olhar - o buscar
na doce espera do encontrar.

Mas a realidade, logo apresentada,
desfaz o breve encanto,
E ainda assim - o instante engano
fas persistir em mim
as saudades de você, 
a vontade tão viva 
de te escutar...

7 de maio de 2025


Imersa,
fluo através dos tempos:
lugares, distâncias, ventos.
Desloco-me —
ao encontro de ti.

Diante de ti, acaricio tua face.
Olhos nos olhos,
sem palavras ditas,
apenas sentidas.

Como uma dança — lenta, de sutis toques:
pontas de dedos, entre dedos, afeto.
Ouça-me dizer teu nome: ______, ______ —
impregnado da saudade que me leva para dentro de mim,
ao encontro de ti, ______ — repetindo, chamando —
nos sussurros que vão com o vento: teu nome, ______...
estou aqui — e junto a ti.

Te espero
no silêncio que também é teu.
______...
estou aqui.
em mim,
teu nome fez morada.


27 de fevereiro de 2025


Quando ela se for...
sentirei
tristeza, saudade, respiro, culpa, medo.
sentirei—eu sei,
já antevejo.

Tantos sentimentos misturados
ao olhar o dia que virá.
Tristeza que já se antecede
ainda que escrita em todos os seres.
O dizer "até", o dizer "adeus"…
O dia, é certo, virá.

Pesar que me habita desde a infância,
quando, no desespero do pensar,
clamava ao Supremo:
"Primeiro eu, primeiro eu,
não quero ser só, estar só."

Mas agora, sou eu quem fica.
Sou eu quem vela.
Quem segura o tempo entre os dedos,
enquanto ele escapa
pelos olhos melancólicos, pela pele fina

Quando ela se for,
sentirei.
Como dizer "até", dizer "adeus"
a quem por mais tempo amei,
a quem por mais tempo me amou,
ainda que não o soubesse dizer?

Mesmo em seus arroubos
narcísicos, aflitos, desesperados—
e ao mesmo tempo, dedicados.
É confuso, eu sei,
mas com o tempo aprende-se
a enxergar o amor nos detalhes.
E eu os vi,
em tantos momentos e gestos.

ao tornar-se a Deus,
respiro
a ausência pesa, pesará—
tanto quanto os grilhões invisíveis
que apertam o pulso
aos arcos adornados da gaiola aberta,
construída e revestida, dia a dia,
de prazer, de dever, de dor, de silêncios
e misturas de pensamentos
dela vejo o mundo,
mas poucos—muito pouco—me veem.

Culpa de querer expandir os quereres,
os horizontes, os céus,
as possibilidades,
até dos sentidos,
e dos sentimentos misturados.
Mas resigna-me o permanecer até o fim,
não importa o medo, o cansaço,
a dor e sentidos—sempre ocultados.

Mas será que pássaros engaiolados,
ao serem soltos, ainda sabem voar?
Temem o novo, sem porto, sem ninho?
Saberão viver sem grilhões,
abraçar os céus e os ventos,
ou, perdidos, voltarão aos arcos
já não adornados,
incompletos para sempre?

Quando ela se for...
Sentirei - eu sei. 

9 de fevereiro de 2025


Imaginar o mundo
e pô-lo em letras
eis o poeta a viver

Extrapolar paixões,
ampliar detalhes,
desdobrar sentidos,
dar forma ao invisível,
vestir o silêncio com palavras

Correr o todo,
interno ou externo,
em poucas linhas,
tentar fazer o infinito caber